O corpo de Hannah Ribeiro Barreto Xavier, de 22 anos, foi enterrado na tarde desta quarta-feira (28) no Cemitério de Guadalupe, em Olinda. Ela foi vítima de uma bala perdida na Avenida Conde da Boa Vista, no Recife, enquanto acontecia um assassinato. O crime foi cometido por volta das 13h30 desta terça-feira (27). Depois de ter sido atingida na região das costas, Hannah foi levada até o Hospital da Restauração, no bairro do Derby, mas não resistiu aos ferimentos. Com lágrimas e homenagens, familiares e amigos estiveram reunidos para exaltar memórias afetivas construídas com a mulher. A sua alegria foi um ponto unânime entre as emocionantes histórias contadas no momento do velório.
Um dos depoimentos mais fortes durante a despedida, instantes antes do sepultamento, veio de uma das pessoas que estava representando o candomblé, a religião de matriz africana que Hannah seguia. Raphaella Safira, mãe de santo e com quem Hannah compartilhava uma amizade há 15 anos, desde a infância, buscou reverter o momento de dor em alegria, um “ponto forte” que via na amiga e filha.
Raphaella Safira, mãe de santo e com quem Hannah compartilhava uma amizade há 15 anos (Sandy James/DP Foto)
“Ela sempre se mostrou alegre e contente. Nunca houve tristeza em Hannah”, disse de início, antes de pontuar o difícil momento que familiares e amigos atravessam. “Por mais que seja um momento de luto para a gente, o qual temos que passar, porque a carne é fraca, a gente sempre tenta transformar em alegria”, complementou.
“A Conde da Boa Vista é uma avenida tão grande e uma das mais movimentadas da cidade e aconteceu isso. É complicado demais. Lamento perder a minha filha, e ainda mais que foi por uma criança de 14 anos”, relembrou.
A mãe de santo esteve acompanhada de outros religiosos do candomblé durante o ritual de despedida. Todos vestidos e com adereços na cor branca. E ela fez questão de explicar as razões de não seguirem a tradição de vestir preto durante essa fase de dor. “Representa a paz. O candomblé significa paz e amor. O luto da gente é branco. Nós trazemos essa bandeira”, afirmou Raphaella.
Familiares e amigos se reuniram para prestar homenagens e relembrar histórias com Hannah, antes do momento do enterro (Sandy James/DP Foto)
Bastante emocionado durante o enterro, e sempre rodeado de familiares e amigos que prestaram apoio no cemitério, o pai de Hannah, Ricardo Xavier, de 45 anos, recontou traços da filha durante as fases da vida, que acabou interrompida aos 22 anos. “A minha filha era uma ótima pessoa. Excelente. Ela foi uma criança alegre e espontânea e que chegou na sua fase de adolescência da mesma forma, com melhoras e objetivos. E quando chegou na fase adulta, ela era inigualável”, contou orgulhoso.
Alegria, espontaneidade e diversão, além de solidariedade, foram outras características exaltadas pelo pai. “O pessoal do candomblé falou a verdade. Hannah era uma pessoa alegre, muito espontânea e divertida. Ela trazia alegria para as pessoas. Uma virtude muito grande que ela tinha também era a de ter prazer em ajudar as outras pessoas”, afirmou.
Renato Xavier também desabafou durante seu momento de sofrimento por perder a filha. E, apesar da insegurança ser algo comum no dia a dia dos recifenses, se voltou agradecido para o fato de policiais terem conseguido prender o responsável pelo crime. “É um conjunto de fatores. A falta de segurança também, porque são poucos os policiais nas ruas, e ainda assim eles conseguiram prender”, comemorou.
Sem esperança de que o adolescente tenha uma prisão como rege a lei, o pai prevê uma injustiça em termos judiciais com o caso. “Na questão de justiça, será uma injustiça. Com um crime desses, era para ele ficar um tempo na cadeia, porque a lei é para todos, mas ela falha nessas situações, principalmente com uma pessoa de 14 anos, que vai estar presa e daqui a pouco solta”, completou.
Crime
Hannah Xavier, de 22 anos, foi atingida por uma bala perdida nas costas enquanto saía de uma loja na Avenida Conde da Boa Vista, no Recife, nesta terça-feira (27). O disparo que a vitimou faltamente foi consequência de um assassinato que acontecia naquele momento entre as ruas da União e da Saudade. O autor dos tiros foi um adolescente de 14 anos, cuja identidade não foi divulgada. Ele atirava para matar Leandro Cardozo, um ex-presidiário que vivia em situação de rua, e faleceu no próprio local ao ser atingido. O adolescente foi autuado por homicídio e o caso está sob a responsabilidade da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA).
Além de Hannah, um técnico social de 61 anos também foi alvo de uma bala perdida durante o assassinato, mas de raspão. Ele foi levado ao mesmo hospital, no Derby, e recebeu alta após ter recebido atendimento médico.
Outras duas pessoas foram feridas por estilhaços, também em consequência do crime praticado na Avenida Conde da Boa Vista. Uma de 68 anos e outra de 48. A mais velha foi levada a um hospital particular e a outra para receber suporte médico na Policlínica Amauri Coutinho. Ambas não tiveram suas identidades divulgadas, nem seus respectivos estados de saúde.
Fonte: DP